A definição e o diagnóstico de obesidade estão prestes a passar por mudanças significativas. Pesquisas recentes apontam que o Índice de Massa Corporal (IMC), que relaciona peso e altura, é insuficiente para avaliar os riscos à saúde associados à obesidade. A nova abordagem, publicada na renomada revista científica The Lancet Diabetes & Endocrinology, propõe critérios mais abrangentes, levando em conta a localização da gordura corporal e os impactos na saúde.
Por que o IMC é insuficiente?
Atualmente, o IMC é a principal ferramenta para diagnosticar obesidade, considerando como parâmetro valores acima de 30 kg/m² para pessoas de ascendência europeia. No entanto, o IMC não distingue entre gordura, músculos e ossos, nem considera onde a gordura está concentrada no corpo.
Por exemplo, atletas com alta massa muscular podem apresentar IMC elevado, mas sem riscos à saúde. Por outro lado, pessoas com gordura acumulada no abdômen – especialmente em torno dos órgãos internos – enfrentam maior risco de doenças, mesmo que seu IMC não indique obesidade.
Assim, o IMC é uma métrica limitada, incapaz de diagnosticar com precisão os impactos da gordura corporal no organismo.
A nova definição de obesidade
A Lancet Diabetes & Endocrinology Commission, liderada pelo King’s College London, propõe critérios mais detalhados para diagnosticar obesidade. Agora, o diagnóstico não será feito apenas pelo peso, mas incluirá a circunferência da cintura e a presença de problemas de saúde relacionados ao excesso de gordura corporal.
A nova definição divide a obesidade em duas categorias principais:
1. Obesidade clínica:
Caracterizada por problemas de saúde associados ao excesso de gordura corporal, como falta de ar, pressão alta, insuficiência cardíaca, doença hepática gordurosa ou limitações físicas.
Há 18 critérios diagnósticos para adultos e 13 para crianças e adolescentes.
2. Obesidade pré-clínica:
Pessoas com altos níveis de gordura corporal, mas sem sinais de doenças ou disfunções orgânicas. Apesar disso, elas estão em risco de desenvolver problemas de saúde, como diabetes tipo 2 e insuficiência cardíaca, no futuro.
Impactos no tratamento
A nova abordagem visa personalizar o cuidado e o tratamento da obesidade:
Para obesidade clínica: o tratamento deve focar na melhora dos problemas de saúde associados, podendo incluir mudanças comportamentais, medicamentos e até cirurgia bariátrica.
Para obesidade pré-clínica: o foco será na prevenção de doenças, com acompanhamento contínuo e orientação para reduzir riscos.
Por que essas mudanças são importantes?
A reformulação do diagnóstico de obesidade pode ajudar a combater o estigma associado à condição, muitas vezes baseada em conceitos errados sobre saúde e peso. A nova abordagem reconhece que não é apenas o tamanho do corpo que determina a saúde, mas sim o impacto da gordura corporal no organismo.
Além disso, a adoção desses critérios permitirá uma alocação mais eficiente de recursos na saúde pública e abordagens mais eficazes no tratamento e na prevenção da obesidade.
Próximos passos
Para que as mudanças sejam implementadas, será necessário atualizar diretrizes clínicas, treinar profissionais de saúde e conscientizar o público. O objetivo é promover diagnósticos mais precisos, tratamentos mais eficazes e, acima de tudo, uma visão mais empática e científica sobre a obesidade.
As novas definições marcam um avanço importante na forma como entendemos e tratamos essa condição, beneficiando milhões de pessoas em todo o mundo.