A condenação do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, a 27 anos e 3 meses de prisão, por causa das tramas golpistas de 2022 repercutiu no mundo.
A decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) ficou entre as principais notícias ou foi a manchete principal em jornais como o The Washington Post e The New York Times, dos Estado Unidos da América (EUA); do inglês The Guardian; do espanhol El Pais; do português Público e do francês Le Monde.
Trump condena decisão do STF
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, classificou como “terrível” e disse estar “muito insatisfeito” com a condenação de Jair Bolsonaro (PL) pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, prometeu resposta por parte dos EUA.
“Estou muito insatisfeito com isso. Eu conheço o presidente Bolsonaro, não tão bem, mas o conheço como líder de um país. E sempre o considerei muito correto, de fato muito notável, na verdade, como homem, um homem muito notável. Acho que é uma coisa terrível. Muito terrível. Acho que é muito ruim para o Brasil”, afirmou o presidente dos EUA com relação a Jair Bolsonaro.
Donald Trump comparou a condenação de Bolsonaro com processos judiciais que ele próprio enfrentou. “Isso é muito parecido com o que tentaram fazer comigo, mas não conseguiram de jeito nenhum. Mas só posso dizer o seguinte: eu o conheci como presidente do Brasil e ele é um bom homem”, afirmou.
O presidente dos EUA não disse se pretende aplicar novas sanções ao Brasil em razão da condenação. No entanto, em um post na rede social X, o secretário de Estado, Marco Rubio prometeu que os EUA “responderão de forma adequada a essa caça às bruxas”.
“As perseguições políticas do violador de direitos humanos Alexandre de Moraes, sancionado, continuam, já que ele e outros membros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram injustamente pela prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Os Estados Unidos responderão de forma adequada a essa caça às bruxas”, afirmou Marco Rubio.
Ministério das Relações Exteriores reage
O Ministério das Relações Exteriores (MRE) se manifestou rebateu a ameaça feita por Marco Rubio.
“O Poder Judiciário brasileiro julgou, com a independência que lhe assegura a Constituição de 1988, os primeiros acusados pela frustrada tentativa de golpe de Estado, que tiveram amplo direito de defesa. As instituições democráticas brasileiras deram sua resposta ao golpismo”, respondeu o MRE, em nota postada nas redes sociais.
Julgamento
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) finalizou, na quinta-feira (11) o julgamento da ação da trama golpista.
Por 4 votos a 1, os ministros condenaram o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete aliados pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado.
A maioria dos réus foi condenada a mais de 20 anos de prisão em regime fechado.
Apesar da definição do tempo de condenação, Jair Bolsonaro e os demais réus não vão ser presos imediatamente. Eles ainda podem recorrer da decisão e tentar reverter as condenações. Somente se os eventuais recursos forem rejeitados, as prisões poderão ser efetivadas.
Mais detalhes estão no site do STF
Penas de Jair Bolsonaro e mais sete condenados pelo Supremo
Repercussão nos jornais internacionais
O jornal dos Estados Unidos (EUA) The Washington Post lembrou da pressão do presidente americano, Donald Trump, contra o julgamento, com o título: No julgamento de Bolsonaro, o Brasil confronta Trump — e seu passado autoritário.
O periódico da capital estadunidense diz que, apesar do longo histórico de golpes no país, nenhum general ou político brasileiro havia sido julgado por esse tipo de crime.
“Desde a sua fundação, o espectro do autoritarismo paira sobre o Brasil. O país sofreu mais de uma dúzia de tentativas de golpe e passou décadas sob ditaduras. Mas ninguém na história do Brasil — nem general nem político — jamais foi julgado em um tribunal por subverter a vontade do povo”, disse o The Washington Post.
O The New York Times (NYT) estampou o título Como Tentar, e Fracassar, Dar um Golpe. O jornal nova iorquino faz uma retrospectiva de todo o processo, destacando que “as evidências sugerem que foi assim que ele tentou” dar um golpe após perder as eleições de 2022.
A jornalista Ana Ionova diz ter analisado dezenas de horas de depoimentos e lido centenas de páginas do processo para reconstruir o caso que levou Bolsonaro, generais e políticos ao banco dos réus.
“Em um caso que muitos veem como um teste crucial para a jovem democracia do país. Com um vasto acervo de provas processuais, a maioria dos analistas afirma que é quase certo que ele será considerado culpado e poderá enfrentar décadas de prisão”, escreveu o NYT.
O jornal britânico The Guardian também destacou a ineditismo do processo contra o ex-presidente da República.
“Pela primeira vez na história brasileira, figuras tão poderosas enfrentam a Justiça por tentarem derrubar a democracia do país”, publicou o Guardian.
Além de lembrar que as pressões de Trump contra o julgamento “abalaram as relações EUA-Brasil”, o jornal inglês também recordou que o Brasil sofreu uma dúzia de tentativas de golpe de Estado desde 1889 [ano da proclamação da República].
“A última tomada de poder bem-sucedida ocorreu em 1964, quando generais apoiados pelos EUA depuseram o então presidente, João Goulart, supostamente para frustrar uma ameaça comunista, inaugurando 21 anos de um regime militar brutal”, escreveu o jornalista Tom Phillips.
O El País destacou na capa o julgamento brasileiro iniciado nesta terça-feira (2), com o título Brasil contra Bolsonaro: chaves de um julgamento histórico por intenção de golpe de Estado.
“Nunca antes um ex-presidente ou militar brasileiro havia sido responsabilizado por um golpe. Até agora”, escreveu a jornalista do jornal espanhol Naiara Galarraga Gortázar.
Também europeia, a revista britânica The Economist dedicou a capa de sua edição de cinco dias atrás ao julgamento de Bolsonaro e dos réus da trama golpista. Bolsonaro ilustra a capa com o rosto pintado de verde e amarelo e um chapéu viking de pele de animal, em uma referência a um dos apoiadores de Trump que invadiram o Capitólio nos Estados Unidos, em janeiro de 2021.
Com o título O que o Brasil pode ensinar à América, a reportagem detalha o julgamento e afirma que o Brasil “dá um exemplo de maturidade democrática aos Estados Unidos”, que, segundo a revista, está se tornando “mais corrupto, protecionista e autoritário”.