O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse, ao discursar na abertura da 80ª reunião da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na terça-feira (23), em New York, que pretende se encontrar com o presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, na próxima semana.
Logo depois do discurso, diplomatas dos dois países se manifestaram sobre o anuncio do encontro, mas, até esta quarta-feira (24), não há nada definido. Há possibilidades de a reunião entre os dois chefes de estado ser presencial por telefone ou por videoconferência, que é a forma mais provável.
Os dois presidentes se cumprimentaram nos bastidores da sede da ONU, em um encontro de cerca de 39 segundos, o que ajudou a amenizar o que Donald Trump falou, com relação ao Brasil, em seu discurso.
Lula, ao discursar na abertura da Assembleia ONU, criticou as sanções unilaterais dos Estados Unidos afirmando que o mundo assiste ao aumento do autoritarismo.
Trump, inclusive, assistiu, pelo circuito interno de televisão, nos bastidores da ONU, parte do discurso de Lula com mostra fotografia, divulgada pela ONU, de autoria de Mark Garten.
Os discursos de Lula e Trump foram antagônicos em diversos pontos, entre os quais as mudanças climáticas, a questão da Palestina e a situação atual da ONU.
Em New York, Lula está participado, também, de reuniões paralelas sobre as mudanças climáticas e em defesa da democracia.
Brandão elogia discursos de Lula
Pelas redes sociais, o governador Carlos Brandão destacou a relevância da participação do presidente Lula na abertura da assembleia da ONU.
Carlos Brandão afirmou o seguinte:
“Grande participação do presidente @LulaOficial na Assembleia Geral da ONU. Seu discurso destacou a posição do Brasil em relação ao fim do genocídio em Gaza, e ainda defendeu o combate à fome, às desigualdades e à crise climática como prioridades. Até mesmo Trump elogiou o encontro com nosso presidente. Nosso país demonstra força no cenário internacional com um líder respeitado e capaz de dialogar com o mundo inteiro”.
Discurso de Lula
No seu discurso Lula, também, tentativas de interferência no Judiciário brasileiro.
“O multilateralismo está diante de nova encruzilhada. A autoridade desta organização [ONU] está em xeque. Assistimos à consolidação de uma desordem internacional marcada por seguidas concessões a política do poder, atentados à soberania, sanções arbitrárias. E intervenções unilaterais estão se tornando regra”, discursou o presidente do Brasil.
Para Lula, existe “um evidente paralelo” entre a crise do multilateralismo e o enfraquecimento da democracia. “O autoritarismo se fortalece quando nos omitimos frente a arbitrariedades. Quando a sociedade internacional vacila na defesa da paz, da soberania e do direito, as consequências são trágicas”, pontuou.
“Em todo o mundo, forças antidemocráticas tentam subjugar as instituições e sufocar as liberdades. Cultuam a violência. Exaltam a ignorância. Atuam como milícias físicas e digitais e cerceiam a imprensa. Mesmo sob ataques sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia, reconquistada há 40 anos pelo seu povo, depois de duas décadas de governos ditatoriais”.
Discursos de Trump
Trump, em seu discurso, teceu elogios ao chefe de Estado brasileiro chamando-o de “homem muito agradável”, com quem teve “uma química excelente” durante breve encontro.
O presidente norte-americano disse que as tarifas aplicadas contra o Brasil e outros países são uma questão de defesa da soberania e da segurança de seu país contra aqueles que “tiraram vantagens por décadas” durante os governos que o antecederam.
“Encontrei o líder do Brasil ao entrar aqui e falei com ele. Nos abraçamos. As pessoas não acreditaram nisso. Nós concordamos que devemos nos encontrar na próxima semana. Foram cerca de 20 segundos. Conversamos e concordamos em conversar na próxima semana”, disse o presidente norte-americano.
Química excelente
Trump acrescentou que Lula “parece ser um homem muito agradável”.
“Eu gosto dele e ele gosta de mim. E eu gosto de fazer negócios com pessoas que eu gosto. Quando eu não gosto de uma pessoa, eu não gosto. Mas tivemos, ali, esses 30 segundos. Foi uma coisa muito rápida, mas foi uma química excelente. Isso foi um bom sinal”.
Na avaliação do presidente norte-americano, o Brasil tarifou os EUA “de uma forma muito injusta”, o que levou seu país a aplicar, de volta, as tarifas de 50% contra alguns produtos brasileiros.
“Fiz isso porque, como presidente, eu defendo a soberania e os direitos de cidadãos americanos”.
O Brasil, segundo Trump, estaria “indo mal” ao cobrar “tarifas imensas e injustas” dos produtos norte-americanos, além de interferir nos direitos e na liberdade de cidadãos americanos e de outros países “com censura, repressão, e com o uso do sistema judicial como arma”.
Na sequência, Trump acenou que o Brasil poderá “se dar bem” caso trabalhe de forma conjunta com os EUA. “Sem a gente, eles vão falhar como outros falharam”, acrescentou.
EUA X Brasil
Desde julho, o governo dos Estados Unidos vem em uma ofensiva taxando produtos brasileiros e tentando interferir nas decisões do Judiciário. O governo brasileiro respondeu afirmando que os Estados Unidos tiveram um superávit junto ao Brasil, nos últimos 15 anos, de mais de US$ 400 bilhões – o que não justificaria a imposição de novas taxas.
Em carta, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, negou que haja censura no Brasil e disse que as decisões da Corte buscam proteger a liberdade de expressão. Ele afirmou ainda que a tarifa de 50% imposta pelo presidente Trump aos produtos brasileiros teve como fundamento uma “compreensão imprecisa dos fatos”.
“No Brasil de hoje, não se persegue ninguém”, afirmou o presidente da mais alta Corte brasileira.