Criança recupera audição no Hospital Dr. Carlos Macieira

Espanto e, ao mesmo tempo, alegria. Essa foi a reação de Angélica Maria da Silva Moreira, de 3 anos e 11 meses, após a ativação do aparelho coclear no Hospital Dr. Carlos Macieira (HCM).

A criança foi submetida a um procedimento cirúrgico para implante do equipamento auditivo no dia 7 de abril e, agora, com o aparelho ativado, pôde ouvir pela primeira vez.

Segundo Maria Auxiliadora Lopes, de 30 anos, mãe de Angélica, assim que foi constatado que a filha não ouvia sons nem ruídos, começaram as buscas por alternativas para que, em algum momento, a criança pudesse finalmente ouvir.

“Graças a Deus, minha filha vai falar, vai me ouvir, vai poder ouvir as outras crianças. Hoje ela vive no silêncio, mas daqui a uns minutos ela vai poder ouvir”, relatou a mãe.

Surdez Severa

Angélica Moreira nasceu com surdez severa, detectada após o teste da orelhinha, exame obrigatório em recém-nascidos que avalia a audição e permite diagnosticar precocemente possíveis deficiências auditivas. O exame é rápido, indolor e seguro.

Para que Angélica Moreira pudesse voltar a ouvir, o processo foi dividido em duas etapas: o implante cirúrgico, realizado em abril, e, agora, a ativação do aparelho.

O dispositivo é composto por um eletrodo inserido na cóclea — estrutura do ouvido responsável por transformar sons em sinais elétricos enviados ao cérebro — e por uma parte externa, semelhante a um botão, fixada na cabeça por um ímã subcutâneo.

O aparelho coclear utilizado é da empresa MED-EL, modelo Artone 3 MAX, que possui conectividade via Bluetooth e quatro programas auditivos. A cada semana, será ativado um programa diferente até que Angélica esteja completamente adaptada, conseguindo distinguir sons, timbres e volumes com clareza.

Presente no momento da ativação, a médica otorrinolaringologista Aline Bittencourt, responsável pela cirurgia, explicou que esse tipo de intervenção é indicado para pacientes com surdez profunda bilateral, que não respondem ao uso de aparelhos auditivos convencionais. “Indicamos para bebês que nascem surdos e falham no teste da orelhinha, na triagem auditiva neonatal, ou para adultos que perderam completamente a audição devido a internações prolongadas, uso de medicamentos ototóxicos ou traumas cranianos”, detalhou.

Apesar da deficiência auditiva, Angélica sempre foi uma criança ativa, saudável e sociável. Desde cedo, aprendeu a se comunicar por meio da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e, no trajeto pelo hospital, cumprimentava a todos com a linguagem de sinais, dando “Boa tarde!”.

A fonoaudióloga do HCM, Érica Caldas, responsável pela ativação do aparelho, explicou que o processo é feito por meio de um software que se conecta aos eletrodos implantados. “Na programação do aparelho, trabalhamos diferentes frequências, desde os sons mais graves até os mais agudos, conforme a necessidade dela. Podemos dizer que, auditivamente, Angélica nasceu hoje. Os sons começarão bem baixos e, progressivamente, vamos ajustando até que ela escute de forma mais clara e confortável”, afirmou.

O som captado é digital e tenta simular, da maneira mais natural possível, a audição humana. Como ela não possui experiência auditiva anterior, o momento da ativação representou um marco: uma nova percepção do mundo, repleta de sons e possibilidades.

“Depois que detectaram a surdez profunda, disseram que precisava fazer o implante. Fui atrás e, em menos de um ano, recebi a ligação da Secretaria de Estado dizendo que a cirurgia estava marcada. Passei a manhã inteira sem conseguir respirar direito. Eu só pensava: ‘Meu Deus, eu consegui! A Angélica vai ouvir e vai falar!’ É uma sensação maravilhosa. Agora começa o processo de primeiro ouvir, para depois conseguir se comunicar”, contou emocionada a mãe, Maria Auxiliadora.

Após a ativação, Angélica deverá retornar ao HCM a cada três meses para ajustes com a equipe de fonoaudiologia. Conforme sua evolução, os retornos passarão a ser semestrais e, posteriormente, anuais. O próximo passo é a reabilitação auditiva, para que ela comece a desenvolver a dicção, a pronúncia das palavras e a articulação dos sons.

Fora do Sistema Único de Saúde (SUS), esse tipo de cirurgia pode custar cerca de R$ 350 mil, valor que inclui não só o implante, mas também os custos hospitalares, honorários médicos e os equipamentos utilizados no procedimento, especialmente os destinados à monitorização dos nervos durante a cirurgia.