O desfile militar que ocorreu na manha desta terça-feira (10), em Brasília , na Praça do Três Poderes, foi duramente criticado por personalidades do mundo político. O ato militar aconteceu no mesmo dia em que o projeto bolsonarista do voto impresso, será voltado na Câmara dos Deputados, o que levou o ato a ser considerado uma forma de intimidação a democracia brasileira.
O comboio com Tanques de guerra, blindados e outros equipamentos e armamentos da Marinha, desfilou no centro de Brasília, em uma solenidade extremamente incomum, afim de entregar convites ao presidente Bolsonaro e a Braga Netto, Ministro da Defesa, para comparecer à Demonstração Operativa, no Campo de Instrução de Formosa (CIF).
Parlamentares reagiram ao ato. Senador da República e presidente da CPI da Covid, Omar Azis (PSD – AM), enfatizou que a demonstração de força (desfile militar), na verdade foi a demonstração de fraqueza de um presidente acuado pelas investigações de corrupção
“Bolsonaro imagina com isso estar mostrando força, mas na verdade está evidenciando toda a fraqueza de um presidente acuado pelas investigações de corrupção […] Não haverá voto impresso, não haverá nenhum tipo de golpe contra a nossa democracia. As instituições, com o Congresso à frente, não deixarão que isso aconteça. A democracia tem instrumentos para defender a própria democracia contra arroubos golpistas.”
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) classificou o desfile como patético e comparou com os praticados por Kim Jong-un, em Pyongyang, na Coreia do Norte
“O que estamos vendo neste instante na Praça dos Três Poderes, na esplanada dos ministérios, é uma patética demonstração de fraqueza, mais patético que aqueles desfiles de Kim Jong-un, em Pyongyang, na Coreia do Norte, porque aqueles, pelo menos é para demonstrar força para o inimigo externo, este daqui é para demonstrar força diante de quem? A força a ser demonstrada hoje, senhor presidente, e talvez seja não para demonstrar força, mas para esconder, para esconder e desviar atenção do que realmente importa. O que realmente importa é o balcão de negócios que foi transformado o Ministério da Saúde, quando mais de três mil brasileiros estavam morrendo.”
Na Câmara, os deputados fizeram uma manifestação em conjunto, em defesa da democracia. Assim como na Câmara, os partidos ( PSB, PCdoB, PDT, PT, REDE, PSOL, PSTU, Solidariedade e Unidade Popular) organizaram uma nota e criticaram a postura das Forças Armadas, que segundo a nota, tem cada vez mais, manchado a sua imagem
“Em meio às sucessivas declarações golpistas de Bolsonaro, e da votação do projeto do “voto impresso” nesta mesma terça-feira, com previsão de derrota, o desfile é uma clara tentativa de constrangimento ao Congresso Nacional […] É inaceitável, ainda, que as Forças Armadas permitam que sua imagem seja exposta desta maneira, usada para sugerir o uso de força em apoio à proposta antidemocrática e de caráter golpista, defendida pelo presidente da República.”
Um dos principais oposicionistas ao governo Bolsonaro, o governador Flávio Dino (PSB – MA), se pronunciou através de sua rede social. Fazendo referência à Geraldo Vandré, poeta brasileiro, Dino reproduziu a poesia (música) “Pra não dizer que não falei das flores”, conhecida pelo tema “caminhando”, escrita por Vandré em 1968 e que representa um dos maiores hinos de resistência ao sistema ditatorial que vigorava na época
“Pelos campos há fome em grandes plantações, pelas ruas marchando indecisos cordões, ainda fazem da flor seu mais forte refrão. E acreditam nas flores vencendo o canhão (…) Há soldados armados, amados ou não, Quase todos perdidos de armas na mão.” (Geraldo Vandré, imortal e atual).
Flávio Dino também criticou a omissão dos parlamentares do “centrão”, que recentemente se aproximaram da base aliada do governo Bolsonaro, e lembrou do que aconteceu em 1964
“Em 1964, parlamentares do “centrão” da época e da direita acharam que tanques não mexeriam com eles. Entraram nas primeiras listas de cassação dos mandatos. Vários morreram no exílio ou com direitos políticos suspensos. Essa vil ameaça de hoje não pode ficar impune.”
A Câmara segue com a sua agenda normalmente e a PEC do voto impresso será votado ainda hoje.
Reportagem: Weslley Maranhão
10/8/2021